2 de fevereiro de 2012

Os Bórgias

Criado por: Neil Jordan
Atores: Jeremy Irons, François Arnaud, Holliday Grainger

Mais informação técnica no IMDb.

Quando e onde o vi: desde 7 de dezembro a 1 de fevereiro no AXN.
Temporada: Primeira mas vai haver uma segunda temporada. Quando estreia? Não faço ideia.

Opinião: Acho que desde sempre tive um fascínio pelos Bórgias. Não é que saiba muito, mas toda a polémica em que tal família se viu envolvida desde nova acompanha a minha imaginação. Não acredito que tudo o que se conta de mal sobre esta família seja verdade, a política parece-me semelhante em todas as épocas, pelo menos do que pude e me lembro de estudar, e se hoje se tenta danificar a imagem do adversário, desenterrando coisas mal explicadas e lançando boatos, acredito que o mesmo se faria naquela época. Ainda assim, histórias de anéis cheios de veneno, assassinatos por envenenamento, incesto, festas que se tornavam autênticos bacanais, histórias de poder quase supremo, não me deixam indiferente, antes pelo contrário, e por isso não podia deixar de ver esta série.

Para dizer a verdade, não sei se será historicamente fiel, mas também não me parece que seja essa a intenção. Nas muitas entrevistas e behind the scenes que há disponíveis, parece haver uma tentativa de colar esta série à obra O Padrinho de Mario Puzo, que terá escrito a sua história sobre uma família da Máfia, tendo por base esta família. A própria tagline parece fazer menção a isso, "The original crime family", e de facto as semelhanças entre as duas obras parecem ser bastantes, desde o retrato dos filhos de Rodrigo parecerem emular as personagens de Al Pacino e James Caan, até à cena do fechar a porta a um elemento feminino, como no final do primeiro filme da trilogia (e a única parte que vi do filme, lamentável eu sei, mas tenho ali os filmes por ver. Já vi o terceiro, sei que não conta porque é mau, mas pode ser que depois desta série pegue nos filmes 1 e 2...). Assim o foco é sobretudo em como Rodrigo Bórgia (Jeremy Irons) usa o seu poder para, a meu ver, tentar criar um estado papal, que a sua família governaria como qualquer família real europeia da época. E isto está, a meu ver, muito bem feito.

A série inicia-se com a eleição de Rodrigo Bórgia para o papado, passando a ser o papa Alexandre VI. Dentro da Igreja conta com o apoio do seu filho César (François Arnaud), que ascende a cardeal apesar de preferir de longe a sorte do irmão, Juan (David Oakes), gonfalonieri, uma espécie de comandante, das tropas papais. O seu papado tem vários oponentes, entre os quais Giullianno della Rovere (Colm Feore), e para cimentar a sua posição, Rodrigo não hesita em usar tudo o que tem ao seu dispor para criar alianças, seja através de casamentos, como o de Lucrécia (Holliday Grainger) e o de seu filho mais novo com famílias italianas importantes da época, como usa também o poder secular, nesta época o legitimador de reinos, reinados e tratados (penso que foi neste papado que se assinaram tratados importantes para os Descobrimentos Portugueses), para manipular, ameaçar e conseguir apoios.

Gostei bastante da série, sobretudo pela intriga, jogos políticos e estratégia. Retrata os finais da Idade Média e o Renascimento, uma época em que a Igreja teria mais legitimidade mas que não seria um poço de virtudes, bem pelo contrário, de tal modo que dar-se-á a reforma Protestante anos mais tarde. Mostra-nos também uma Itália dividida (de facto só foi unificada por Vítor Emanuel II, no séc. XIX, salvo erro) com várias famílias a dominarem cidades importantes. Acho engraçado como se nota ainda uma influência do Império Romano, já que os vários príncipes, e o próprio papa, têm uma vasta rede de clientes com base em casamentos e favores. Basicamente cada um tenta puxar a brasa à sua sardinha e tenta usar o outro para chegar ao seu objetivo.

Também gostei das personagens, nomeadamente Lucrécia, cuja face e atitudes inocentes e pueris escondem uma mente brilhante, algo calculista e até certo ponto manipuladora, e César, escolhido por Rodrigo para seguir as suas pisadas na Igreja (até me parece ser o mais parecido com Rodrigo e o que herdaria o seu "trono", por assim dizer) mas que parece mais talhado para outras atividades muito pouco santas. De todos os atores destaca-se, como será óbvio, Jeremy Irons que é brilhante e cuja voz imprime uma aura à personagem, de orador, de alguém que podia ser um verdadeiro "pescador de homens", mas acho que todos os atores estão muito bem nos seus papéis.

Citações:
César: That poison was meant for us.
Rodrigo: You don't poison the Pope!
César: Do you know what the gossips are calling you? "The mitred ape". Half of Rome is waiting to celebrate your demise.
Rodrigo: You would poison a dying dog! Not the heir to Saint Peter!
César: The idea offends you, then?
Rodrigo: It offends me, it offends nature, it offends God Himself!
César: Then God will take his revenge.
Rodrigo: Yes he will... with our help!

Maquiavel: That cardinal claimed to be a man of peace.
César: We all do, signor Machiavelli.
(...)
Maquiavel: You are far too clever for a cardinal.(...) And if these times have made you clever, the coming months may thrust genius upon you.

Vanozza: He loves each new arrival, but try to tell him of the birthing pains.
Rodrigo: No, no, no, you mustn't.
Vanozza: With Juan I was in agony for days, do you remember?
Rodrigo: I remember... joy of holding him in my arms. A brother to little Cesare at last. We did love our children, did we not my dear?
Vanozza: To a fault.

Deixem-me também chamar a atenção para uma cena do Jeremy Irons (que infelizmente não consigo encontrar no YouTube, mas é mais ao menos como a imagem) como Papa Alexandre VI, enquanto recebe pretendentes para a Lucrécia. Fez-me lembrar, e ao meu irmão, de Scar no filme animado "O Rei Leão" e o seu "estou rodeado de idiotas". :D Aliás, conforme estávamos a ver a cena dissemos aquela fala em voz alta e depois ficámos a olhar um para o outro feitos parvos, até nos desmancharmos a rir. :D


Veredito: Vale o dinheiro gasto. Vi-o na televisão mas penso que não hesitarei em adquirir a série se a encontrar à venda. Adoro histórias de poder e corrupção e esta parece-me bem conseguida nesse aspeto. Além disso, fez-me ficar ainda mais curiosa em ver e ler a obra de Mario Puzo (vamos a ver se o meu irmão deixa de me melgar a cabeça), o livro que tenho cá em casa sobre a Lucrécia Bórgia e até O Príncipe de Maquiavel, inspirado, parece-me, em César Bórgia. Queria pegar neles ainda este ano pois ando há anos a adiar.

2 comentários:

Tita disse...

Infelizmente não consegui ver a série, mas tenho que ver se a encontro à venda.
Li "A Família" do Puzo e adorei, também li "A noiva Borgia" e não é mauzito.
Também gosto deste tipo de séries/livros com corrupção e poder e afins =)

WhiteLady3 disse...

Acho que és bem capaz de gostar. :) Eu li um do Puzo, O Siciliano salvo erro e, apesar do ritmo lento, não desgostei. A Noiva Bórgia está na wishlist há algum tempo. :D

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